VAMOS PROTEGER OS POLICIAIS

Publicada em 17 de março de 2024

Novo artigo de nosso sócio Diretor, Dr. Olindo Barcellos da Silva, publicado no Jornal Gazeta Mineira do dia 15/03/2024

O assunto não é agradável, mas precisa ser enfrentado. Num artigo publicado em jornal de circulação regional, um Delegado de Polícia deu a informação de que o índice de suicídios de policiais é percentualmente oito vezes maior que na média da população. Não consegui descobrir de onde saiu o dado, mas é certo que o percentual de suicídio entre policiais é bem maior do que entre o restante da população. Várias pesquisas apontam.

A questão sempre me preocupou, tanto pelo aspecto humano, individual, como pelo aspecto coletivo, já que também existe um claro interesse social no tema. A atividade policial está exposta a múltiplos fatores estressantes. Já de início, precisam andar armados já que o confronto a tiros, ou pelo menos sua possibilidade permanente, é um fator de estresse; além disto, o cuidado com a arma e mantê-la longe da família, muitas vezes com crianças, é preocupação adicional. A isto, somam-se as operações, madrugadas adentro, em áreas violentas, onde ser recebido à bala, por bandidos com melhor armamento, nunca esteve fora de questão.

Estas são as dificuldades, a meu ver, mais visíveis. Mas há outras muito importantes que precisam de consideração. Os policiais lidam com o lado obscuro, com as mazelas da sociedade, com o aquilo que o ser humano tem de pior. É pai abusando de filha menor, filho batendo nos pais e roubando os móveis da casa para entregar ao traficante, mãe prostituindo a filha para ter renda, pais usando filhos pequenos para entregar drogas. Tudo isto vai parar numa Delegacia.

Com uma rotina destas, é sério o risco de que se passe a acreditar que a sociedade é só isto. Daí ao desencanto, a decepção com a humanidade e a depressão se torna um caminho curto.

Para que este lado sombrio da sociedade não contamine ou perturbe o(a) policial, me parece que um acompanhamento psíquico permanente e de qualidade é necessário. Nem todos vão precisar tratamento, mas uma atividade que lida de forma permanente com todos os tipos de violência e baixeza humanas, precisa ser acompanhada.

Aliás, um dos sintomas dos pacientes de problemas psicológicos psíquicos, muitas vezes é a negação. No caso do(a) policial, que precisa se mostrar forte e resiliente para a população que protege, admitir um problema psicológico pode ser uma barreira intransponível, uma pseudo demonstração de fraqueza. Não é fraqueza, é um sentimento humano cuja falta de tratamento pode descambar, como muitas vezes ocorre, na depressão e no suicídio.

Para ser bem claro, entendo que a sociedade deve àqueles que têm o dever de protegê-la, não só o salário. Também atenção e proteção psíquica, se não for por humanidade, pelo menos por egoísmo. Ou alguém quer um(a) sujeito(a) desequilibrado(a) emocionalmente portando arma e usando a força da lei?