RIO GRANDE DO SUL DO BRASIL

Publicada em 8 de junho de 2024

Novo artigo de nosso sócio Diretor, Dr. Olindo Barcellos da Silva, publicado no Jornal Gazeta Mineira do dia 07/06/2024

A catástrofe das inundações trouxe consigo um rastro de perdas e desgraças. As pessoas e a economia vão demorar muito tempo para se recuperarem. No meio da tragédia houve, e ainda há, o alento da solidariedade. Não pode o Rio Grande esquecer que seu drama comoveu o país. Sobretudo, não pode olvidar que o restante do Brasil deu demonstrações comoventes de apoio, que se concretizaram em auxílios materiais através de dinheiro, alimentos, água, cobertores e trabalho voluntário. O Atletico Mineiro, clube de futebol fez um treinamento num domingo e colocou 40 mil pessoas no estádio, todas levando contribuições ao nosso povo. O surfista Pedro Scooby e seu grupo vieram ao estado com jet skys, jipes, alimentos, água e trabalharam intensamente como voluntários. São apenas dois exemplos. Falo da sociedade civil e não dos poderes constituídos, porque os primeiros não tinham qualquer obrigação.

Aqui, um ponto me parece bem importante. O restante do Brasil reconhecendo o estado como irmão e mandando dinheiro, alimentos e apoio. Há, no nosso Rio Grande, uma centelha de separatismo, que nem de longe alcança a maioria ou mesmo uma parcela significativa da população. Pior, uma ideia de parcela minoritária de que somos superiores aos outros irmãos brasileiros. Muito disto vem da ignorância. Porto Alegre, que é uma das cidades que mais festeja a revolução farroupilha, ganhou do império o título, que ostenta no seu brasão de “mui leal e valorosa”. O leal aqui é ao império e não aos Farrapos, que no passado combateu e hoje cultua.

Claro que o Rio Grande do Sul é diferente de quase todo o resto do país. A fronteira do sul do Brasil foi escrita na pata do cavalo, na lança e no sangue dos gaúchos. Não podemos esquecer que nossos ancestrais guerrearam para serem brasileiros. Temos um clima subtropical com um frio que não existe nas demais regiões. Nossa história e nossa cultura são peculiares. Podemos ter orgulho de sermos quem somos. Nem por isto, estamos autorizados a nos julgarmos superiores aos demais brasileiros, seja de que região for. Por estes dias, num grupo de whatts do pessoal do futebol (sim, quase em outra encarnação pratiquei – ou tentei praticar, o esporte) ouvi um depoimento de um filho dizendo que viu o pai sofrer muito pela discriminação enfrentada pela sua condição de nordestino. Senti vergonha.

As diferenças de cultura entre as regiões não são privilégio do Brasil. Na Espanha, muitíssimo menor, um catalão e um andaluz têm culturas diferentes. O Brasil é gigante não só pelo tamanho, mas por sua cultura diversificada. No meio da nossa tragédia, podemos reconhecer o auxílio do restante do país e olharmos os brasileiros de outras regiões como eles realmente são: irmãos que merecem respeito e que nos ajudam a compor esta grande nação, da qual todos fazemos parte como uma grande família.