O PARAÍSO DOS QUEBRA-MOLAS

Publicada em 23 de fevereiro de 2024

Novo artigo de nosso sócio Diretor, Dr. Olindo Barcellos da Silva, publicado no Jornal Gazeta Mineira do dia 23/02/2024

O tema é de interesse regional e controvertido. Mas precisamos falar dos quebra molas da estrada entre São Jerônimo e Charqueadas, ou Charqueadas e São Jerônimo, para não tocar em velhas e emboloradas rivalidades. Para um trecho de uns 10 quilômetros temos quase um quebra-molas por quilometro. Não conheço outra estrada que tenha tantos. Talvez exista, mas não conheço. E olha que já rodei bastante em vários lugares. Temos quebra-molas no meio de uma reta desabitada, quebra-molas em trevo de acesso, quebra-molas no meio de curva, quebra-molas em todo o lugar!

Me ocorre que dois municípios com as mesmas raízes históricas, culturais e econômicas como São Jerônimo e Charqueadas ficam cada vez mais “distantes”, quando deveriam ficar mais próximos. Antes que apareça um engraçadinho, sei que a distância, com ou sem os quebra-molas, é a mesma. Mas tenta transitar 10 quilômetros numa estrada recheada de quebra-molas e outros 10 quilômetros sem estes “aparatos de segurança” e depois mensura o tempo (além da paciência do motorista) e me diz a diferença. Sem contar aqueles que transitam por esta estrada vindo de outras cidades para outra região, de Santa Cruz à Porto Alegre, por exemplo. Aliás, quem já não ouviu (diversas vezes) a pergunta: por que tantos quebra-molas nesta estrada?

O trajeto que poderia ser vencido em 10 minutos dura, pelo menos, o dobro do tempo. Se pegar um caminhão carregado na frente, cria uma enorme fila e dura muito mais. Só não me incomodo tanto, e dou esta sugestão a quem lê, porque penso na dificuldade do pobre motorista do caminhão, tendo que parar e arrancar a cada quilômetro. E no risco de prejuízo e desgaste no seu caminhão, já que esta manobra constante pode trazer problemas mecânicos. Agora, se o leitor é caminhoneiro ou dono de caminhão, só posso dar minha solidariedade. Não adianta nada, eu sei, mas melhor o gesto do que o desprezo.

Também penso no tempo que uma ambulância, onde a rapidez pode ser fundamental para salvar uma vida, demora para vencer esta pequena distância indo para Porto Alegre. Deve ser angustiante ao motorista, ao enfermo e aos familiares.

Não é possível, e não existe isto em lugar nenhum, que a cada acidente que ocorra se coloque um maldito quebra-molas no local, pensando que é a solução. Entendo e louvo que a ideia era privilegiar a segurança. Reconheço que, na altura do Passo da Cruz é indispensável uma forma de controlar a velocidade, porque se trata de região urbanizada, que se torna perigosa sem qualquer controle. Vai lá, neste local entendo os quebra-molas.

Ainda assim, pode ser pensada a hipótese de controlador eletrônico, com sinalização eficiente. Mas no resto da estrada não faz sentido a quantidade. Mesmo falando em segurança, a péssima sinalização dos quebra-molas gera mais riscos do que segurança.

Quem mora numa das duas cidades e não sabe de acidente onde um carro abalroou o outro?

Não é sem sentido que o parágrafo único do art. 94 do Código de Trânsito Brasileiro diz que “É proibida a utilização das ondulações transversais e de sonorizadores como redutores de velocidade, salvo em casos especiais definidos pelo órgão ou entidade competente, nos padrões e critérios estabelecidos pelo CONTRAN”. Como é que conseguiram colocar tantas “ondulações transversais”? Será que até o legislador detesta quebra-molas a ponto de usar um eufemismo?

Quem sabe vamos todos reconhecer que a intenção foi das melhores, ninguém é culpado. Palmas para quem teve boas intenções. Mas a estrada virou um suplício. Existem métodos mais eficazes para a segurança, que não geram riscos nem prejuízos e até salvam mais vidas. Sem tirar a paciência dos motoristas.