NÃO TEMOS AS MEDALHAS QUE IMPORTAM
Publicada em 10 de agosto de 2024
Novo artigo de nosso sócio Diretor, Dr. Olindo Barcellos da Silva, publicado no Jornal Gazeta Mineira do dia 09/08/2024
O clima é de Olimpíadas, como não poderia deixar de ser. Por estar trabalhando no horário da maioria das competições e outro tanto por falta de interesse na maioria dos esportes, não tenho acompanhado. Quando muito uma ou outra competição e uma rara espiada na parte de cima do mapa das medalhas. Confesso que Badminton pra mim é uma espécie de peteca com grife e nunca havia falado no “breaking”, pelo menos como esporte. A esgrima não me emociona e o tiro com arco não me arranca mais do que um bocejo. Mas respeito os admiradores destes esportes e reconheço que a competição cria uma espécie de identificação nacional. Afinal, todos torcemos para atletas dos quais a maioria nunca tinha ouvido falar, mas que defendem nossa bandeira.
Antes de criticar a falta de apoio ao esporte, que é uma realidade, penso que não podemos deixar de lançar o olhar e a atenção ao que realmente interessa. Duas ou dez medalhas de qualquer minério não mudariam um quadro que é muito triste no país.
Dito isto, os dados do SNIS (sistema nacional de informações sobre saneamento) apontam que o país ainda tem grandes dificuldades com a coleta e com o tratamento de esgoto. Comparando os dados do SNIS, anos-base 2021 e 2022, a coleta de esgoto subiu de 55,8% para 56% e o tratamento foi de 51,2% para 52,2%. Podemos nos preocupar com a onda que não veio para o Gabriel Medina, mas coleta e esgoto que estão faltando em quase metade dos lares brasileiros faria muito mais diferença na realidade do Brasil. Conforme indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e tem como ano base 2022, “Em média, 33 milhões de pessoas não têm acesso à água do nosso país. Ou seja, apenas 84,9% da população é hoje abastecida com água potável. Temos poucas medalhas, mas 15% dos irmãos brasileiros não conquistaram sequer acesso à água potável!
No Brasil, 72,69 milhões de pessoas não estão cobertas pelo programa de atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS). O número representa 34% da população do país, conforme levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). Segundo o último Censo, 7% da população brasileira acima de 15 anos é analfabeta. No Uruguai, o índice de analfabetismo é de 2,1%; na Argentina apenas 0,8% da população acima de 15 anos era analfabeta em 2015; na Bolívia o índice é de 2,9%, mas estamos acima deles no ranking das medalhas.
O esporte é importante e saudável, especialmente com o objetivo de integração de crianças e adolescentes. Além disto, tem uma enorme capacidade de difusão de mensagens e não é por outro motivo que os patrocinadores fazem fila na porta dos grandes campeões olímpicos. Natural que admiremos as Olimpíadas pelo esporte e pelo ideal de integração dos povos, mas, quadro de medalhas à parte, não vamos esquecer o quão longe estamos das conquistas que realmente importam.