PROJEÇÃO DE QUEM? DOS BÚZIOS?

Publicada em 1 de agosto de 2022

Novo artigo de nosso sócio Diretor, Dr. Olindo Barcellos da Silva, publicado no Jornal Gazeta Mineira do dia 29/07/2022

Se alguém ainda não sabe e não leu a apresentação acima, abaixo do título, minha formação é na área do Direito. Procuro me informar sobre outras áreas de conhecimento, admitindo limitações. Dito isto, nesta semana a Agência Brasil noticiou que o FMI (Fundo Monetário Internacional) revisou a projeção de crescimento do PIB brasileiro para o ano de 2022 e para o ano de 2023. A notícia, em síntese é esta: “Na revisão das estimativas em seu relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado hoje (26), o FMI passou a estimar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano em 1,7%, bem acima da taxa de 0,8% calculada em abril….  A estimativa do FMI, no entanto, ainda está um pouco abaixo da do governo, que calcula que o PIB brasileiro deve crescer 2%, neste ano. “, ainda “Para 2023, o relatório do FMI indica que a expansão da atividade será de 1,1%, 0,3 ponto percentual a menos do que o previsto em abril. A previsão do Ministério da Economia para 2023 é de 2,5%.”

Imaginava eu que tais projeções tinham um caráter científico e. como tais, eram confiáveis. Tolice minha! Basta ver os números com um pouco de calma e a calculadora do celular na mão. Em primeiro lugar, estamos um pouco além do meio do ano. A “projeção foi alterada de 0,8% feita em abril para 1,7% em julho”. Ora, o dobro de 0,8 é 1,6, mas a “projeção” chegou até 1,7, mais do que o dobro. E de abril a julho, apenas três meses! Então o FMI dobrou a “projeção” de crescimento da economia em apenas três meses? Como assim? Já havia recessão mundial e guerra na Ucrânia (a guerra iniciou dia 24 de fevereiro e a projeção foi feita em abril). Mas ainda vamos trabalhar nas “projeções” deste ano: segundo o FMI de 1,7% e o Ministério da Economia prevê em 2% de aumento. Em percentual dá uma diferença de 15% e estamos no sétimo mês do ano.

Agora, para o próximo ano, a divergência de “projeções” é escandalosa. O FMI prevê “expansão da atividade será de 1,1%…0,3 ponto percentual a menos do que o previsto em abril”. Sim, 0,3% percentual que significa mais de 20% de diferença da projeção realizada faz apenas três meses. E se compararmos a divergência da projeção do aumento do PIB do FMI e do Ministério da Economia, não teremos apenas uma diferença de 1,1% para 2,5%, mas uma divergência de 150%! Claro que lá por outubro vem outra “projeção” mais próxima da realidade, mas aí fica fácil. Notem como as entidades se protegem mostrando a diferença de números, sem mostrar o percentual que mudou. Imagine um empresário que, em abril faz uma projeção de despesa e, em julho, tem que rever estes números em mais de 100%. Está falido! Vamos pensar em dois empregados que fazem projeções que têm uma diferença de 150%. No mínimo, um dos dois seria demitido. Até o relógio parado acerta duas vezes ao dia, como diz o dito popular.

Sinceramente, estes dados de projeção do aumento do PIB são tudo, menos confiáveis. Alguém aí sabe jogar búzios?