POR QUE A GUERRA?

Publicada em 1 de abril de 2022

QUE A GUERRA?

         O título acima é de uma obra que retrata a troca de correspondência de dois grandes personagens da história. Ninguém menos do que Einsten e Freud escreveram as cartas que originaram o livro, datadas de 1932. Acha a atenção a diferença entre o que se classificou como um “humanismo realista” de Einstein e o pessimismo de Freud, em cujo texto pulsa a morte. Os textos não são longos, em termos de obra literária, e somam 26 páginas de diálogo dos dois gênios.

         A primeira correspondência é de Einsten para Freud propondo o problema: existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra? Einsten pede a Freud, ambos se tratam o tempo todo como senhor, que proporcione a elucidação do problema mediante o auxílio do seu profundo conhecimento da vida instintiva do homem. Com um otimismo que beira, ou adentra, a ingenuidade, o genial físico alemão sugere que “como pessoa isenta de preconceitos nacionalistas, vejo uma forma simples de abordar o aspecto superficial (isto é, administrativo) do problema: a instituição, por meio de acordo internacional, de um organismo legislativo e judiciário para arbitrar todo conflito que surja entre nações. Cada nação submeter-se-ia à obediência às ordens emanadas desse organismo legislativo, a recorrer às suas decisões em todos os litígios, a aceitar irrestritamente suas decisões e a pôr em prática todas as medidas que o tribunal considerasse necessárias para a execução de seus decretos”. Logo reconhece que “um tribunal é uma instituição humana que, em relação ao poder de que dispõe, é inadequada para fazer cumprir seus veredictos, está muito sujeito a ver suas decisões anuladas por pressões extrajudiciais. A lei e o poder inevitavelmente andam de mãos dadas, e as decisões jurídicas se aproximam mais da justiça ideal exigida pela comunidade (em cujo nome e em cujos interesses esses veredictos são pronunciados), na medida em que a comunidade tem efetivamente o poder de impor o respeito ao seu ideal jurídico… O intenso desejo de poder, que caracteriza a classe governante em cada nação, é hostil a qualquer limitação de sua soberania nacional.” E indaga como os governantes “conseguem tão bem despertar nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de estes sacrificarem suas vidas?”  

A resposta de Freud, em muito apertada síntese, é de que “os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir que denominamos eróticos… e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo… de nada vale tentar eliminar as inclinações agressivas dos homens… Mas uma coisa podemos dizer: tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra.”

         O espaço é pequeno para destacar o primor dos textos, mas fica uma pequena amostra e a indicação.